Modelos estimam que impactos da pandemia na atividade econômica serão superiores ao pico da recessão vivida em 2015
Na mesma medida que o combate ao coronavírus ainda desafia a ciência, prever os reais impactos na atividade econômica igualmente é um exercício cercado de incertezas. A partir de uma série de indicadores sobre o consumo e a circulação das pessoas, estudo desenvolvido no âmbito do Comitê de Dados do governo do Estado no enfrentamento da Covid-19 reuniu dois modelos distintos para estimar os efeitos da pandemia na economia e, mesmo em cenários menos pessimistas, ambos mostram que 2020 será pior do que 2015, quando o país viveu o pico de uma recessão. Em uma das análises de curto prazo, a retração do IBCR-RS (Índice de Atividade Econômica do Banco Central para o RS) seria na ordem de 10%, isso na hipótese de se retomar gradativamente os índices de atividade pré-pandemia.
Mesmo para registrar um indicador tão negativo e que deverá se replicar no comportamento do PIB gaúcho, o estudo conduzido pelo professor Régis Augusto Ely, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), alerta que não foram consideradas mudanças na estrutura produtiva no período pós-pandemia em função de restrição de informações. Se isso ocorrer, a queda da atividade econômica pode permanecer por um período longo de tempo. No caso do cenário se agravar, exigindo que o isolamento permaneça nos padrões atuais até dezembro, a queda do IBCR-RS deve ultrapassar 14%.
No estudo, Ely analisou indicadores que envolvem desde a arrecadação de ICMS – cuja queda em abril foi de R$ 451 milhões na comparação com o mesmo mês do ano passado –, emissão de notas fiscais eletrônicas (queda mensal de R$ 14,7 bilhões), a demanda de energia elétrica e até mesmo o volume de veículos de passeio e de transportes cruzando por praças de pedágio.
Em uma estimativa mais drástica (na hipótese do avanço da doença exigir medidas de isolamento iguais às adotadas no mês de março), o tombo na atividade econômica poderá atingir a marca de 16%. Diante do quadro, o professor de Economia vislumbra apenas para 2021 o início de um ciclo de retomada. “Isso na hipótese de termos a nossa estrutura produtiva mantida e que esta recuperação seja rápida, sendo sentida logo nos primeiros meses do próximo ano”, avalia.
Análise de setores
No segundo modelo utilizado no estudo, o economista Adelar Fochezatto, professor da Escola de Negócios da PUCRS, desenvolveu estimativas sobre os impactos da pandemia se valendo de projeções de cenários agregados e setoriais para o Valor Adicionado Bruto (VAB) e em termos de arrecadação do ICMS. Pelos estudos que trabalhou, Fochezatto avaliou o desempenho dos principais segmentos produtivos do RS.
Nesse sentido, analisou indicadores como o choque de demanda de energia em cada setor, os níveis de recolhimento do principal imposto estadual e a queda de oferta de produtos primários por conta da forte estiagem que atingiu o Estado.
A partir desses indicadores, o modelo trabalhou em dois cenários: um deles com a crise perdurando quatro meses e o segundo, se prolongando por nove meses. Mesmo quando a economia gaúcha sofre por menos tempo, a economia pode variar negativamente entre 6,5% e 8,1%, e as perdas em termos de arrecadação do ICMS devem ficar entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,3 bilhões e entre R$ 21,7 bilhões e R$ 27,1 bilhões em termos de VAB.
Na situação mais extrema, a queda na cobrança do imposto ficaria entre R$ 4,1 bilhões e R$ 5,1 bilhões (variação negativa entre 14,6% e 18,2%), no mínimo o dobro do volume de repasses com o socorro federal que o RS receberá em quatro parcelas. Nessa situação mais extrema, as perdas de VAB ficariam entre R$ 48,8 bilhões e R$ 61,1 bilhões.
Nos cenários analisados, o setor automobilístico, a agropecuária, a indústria metalúrgica e a fabricação de aço são os que apresentam maiores variações negativas, tanto no VAB como na arrecadação de ICMS.
Fochezatto e Ely são colaboradores externos do Comitê de Dados, órgão responsável por elaborar análises e reunir dados para embasar as decisões do governo do Estado no enfrentamento da Covid-19. Eles atuam junto ao grupo de trabalho (GT) de Atividade Econômica, coordenado pela economista Vanessa Neumann Sulzbach, do Departamento de Economia e Estatística (DEE/Seplag). O estudo já foi tema de reunião do Gabinete de Crise.
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