Destaque

145 anos de morte do coronel Genuíno Sampaio

Monumento de Sampaio foi erguido em 1931 pela comunidade do Ferrabraz

A famosa batalha que marcou a história de Sapiranga, completou neste sábado, 20 de julho, 145 anos de morte do coronel Genuíno Sampaio. Personagem polêmico da Batalha dos Mucker, o coronel liderava as tropas que lutaram contra o grupo de Jacobina. Falecido durante os confrontos no Morro Ferrabraz, teve o monumento feito pelos escultores R.R. Sherer e A. Küchler. A estátua do coronel Genuíno Sampaio foi erguida em 1931 pela comunidade local, descendentes de colonos alemães da localidade do Ferrabraz. A área seria próxima à residência onde teria morado Jacobina Mentz Maurer. O local foi marcado pelas duas últimas batalhas entre tropas do Exército e Mucker.

A estátua que simboliza o local da morte do Coronel, localizada no pé do Morro Ferrabraz, ao lado da sede da Associação Gaúcha de Voo Livre (AGVL), teve a cabeça arrancada e totalmente destruída pela ação de vândalos em 2016. O monumento, recentemente passou por um processo de restauração. A Prefeitura Municipal contratou o artista e professor de arte, Eduardo Rick Martins, que realizou o trabalho de recuperação da escultura. Conforme o artista, a restauração foi feita através de fragmentos e fotos antigas da escultura de Genuíno Sampaio procurando manter as características do modelo original. A nova cabeça foi moldada em argila conforme o modelo e fundida em resina. Já o corpo do monumento foi cuidadosamente restaurado com resina procurando manter a textura existente e repintado nas cores originais. Além disso, a base e as placas de identificação também foram revitalizadas.

CAMINHOS DE JACOBINA
O roteiro Caminhos de Jacobina traz pontos que retratam a trajetória do episódio dos Mucker, que marcou a história de Sapiranga na segunda metade do século 19. Os pontos oficiais do trajeto são os túmulos dos colonos no Cemitério Amaral Ribeiro, a estátua do coronel Genuíno Sampaio e a Cruz de Jacobina. O morro da Pedra Branca é outro atrativo. Ele fica no trecho inicial em uma curva da estrada que leva ao topo do Morro Ferrabraz e é parada quase que obrigatória para turistas. Praticantes de esportes radicais se aventuram em escaladas no local (lá no alto há uma caverna/toca na qual os seguidores de Jacobina teriam se instalado para avistar quem chegava, em uma espécie de “torre de controle”).

O TÚMULO DOS COLONOS NO CEMITÉRIO DO AMARAL RIBEIRO

O túmulo no Cemitério do Amaral Ribeiro de quatro colonos alemães mortos no conflito com os Mucker, na década de 1870, integra o roteiro de Caminhos de Jacobina mostrando a lápide especialmente construída como memorial do episódio. A coluna funerária traz inscrições em alemão do século 19, quando o território ainda era colônia de São Leopoldo. Está escrito na coluna: “Hier ruhen die vier Deutschen Theodor Meinhard, Heinrich Hoffmann, Heinrich Linn und Phillip Kirsch welche am 26 Juli 1874 im Kampfe gegen die Mucker gefallen sind R.I.P. Andenken von den Bewohnern de Colnnie São Leopoldo.” A tradução seria: “Aqui descansam os quatro alemães Theodor Meinhard, Heinrich Hoffmann, Heinrich Linn e Phillip Kirsch que em 26 de julho de 1874 morreram na batalha contra os Mucker. Lembrança dos habitantes da Colônia de São Leopoldo”. Abaixo, no pé da lápide, aparece o nome de Jacob Schmitt, escultor da lápide.

A CRUZ DE JACOBINA
A cruz de madeira foi erguida no local onde, supostamente, Jacobina e alguns dos seus seguidores teriam buscado abrigo para fugir do confronto com as tropas militares e acabaram ali sendo mortos. A cruz foi colocada no início do século 20, depois da visita de um dos remanescentes do confronto dos Mucker (diz-se que o nome do colono que colocou a cruz era Kauer). Não há comprovação do fato, mas acredita-se que neste local Jacobina tenha morrido no combate final.

A BATALHA DOS MUCKER
O desenvolvimento da colônia alemã teve um episódio violento na segunda metade do século 19, a chamada batalha (ou revolta) dos Mucker, um conflito religioso e social entre os colonos no Morro Ferrabraz, que se arrastou de 1868 a 1874.
Os protagonistas desta saga foram Jacobina Mentz e João Jorge Maurer, que se conheceram em São Leopoldo, na metade do século 19, casaram-se em 1866 e, saindo de Hamburgo Velho, se estabeleceram nas terras da encosta do Morro Ferrabraz (teriam tido seis filhos). Curiosamente, os pais de Jacobina teriam deixado a Alemanha devido ao rompimento da família com a igreja luterana e a criação de uma seita em uma pequena comunidade germânica, Tambach-Dietharz, na região central do país. A história se repetiu no Vale do Sinos. Jacobina sofria de ataques epiléticos, desde criança, o que fazia com que ela fosse vista como uma pessoa de natureza diferenciada. Quando ela adoeceu, o curandeiro Ludwig Buchorn a tratou e ensinou o marido dela (que era carpinteiro) sobre as ervas e como elas podiam ser usadas para a cura de enfermidades. Como naquela época os médicos eram escassos, as pessoas comumente apelavam a curandeiros. Enquanto Maurer utilizava seus conhecimentos com chás e ervas, Jacobina usava a religião no atendimento espiritual aos doentes, citando passagens bíblicas com algumas interpretações livres. Tornou-se famosa por suas pregações e os tratamentos e rituais de cura passaram a ser vistos como miraculosos, em meio a momentos de epilepsia vistos como transes.

Assim, criou-se uma legião de seguidores (muitos até fanáticos) de Jacobina, e isso atraiu a ira de muitos outros habitantes que a viam como uma inimiga da igreja e acusavam de falsa curandeira. Surgiu então na colônia a definição Mucker para os seguidores de Jacobina, uma pejorativa palavra alemã que pode ser traduzida como falso, desonesto ou encrenqueiros no plural. Mal vistos pela sociedade estabelecida (parte de origem católica, parte de origem protestante), os Mucker eram acusados de vários ataques na região pelas comunidades contrárias a eles. Com as acusações, ataques, embargos e a opressão, eclodiu o ódio no Morro Ferrabraz. Em maio de 1873, Jacobina e seu marido chegam a ser presos em São Leopoldo. Ela chega a ser, inclusive, internada para exames clínicos em Porto Alegre, mas é liberada no mês seguinte, sem resultados conclusivos.
Os conflitos seguem até que em junho de 1874 se iniciou, então, uma sequência mais violenta e sangrenta de ataques, que ficou conhecida como A Batalha dos Mucker. Casas comerciais e residenciais foram incendiadas, resultando em mortes de crianças e adultos. Vieram abaixo-assinado, acusações, pressões na Justiça e no governo estadual. A chegada das tropas de infantaria comandadas pelo coronel Genuíno Sampaio acentuam o prenúncio da ofensiva derradeira. Na sua primeira ofensiva, em 28 de junho, perde muitos soldados (seriam 39 mortos) e os Mucker saem com menos baixas (apenas seis mortes). Mas em 18 de julho vem o primeiro massacre, com 16 seguidores de Jacobina mortos – ela escapa e se refugia no Ferrabraz com alguns de seus fiéis. Neste ataque Sampaio é alvejado e morre um dia após o ataque devido a uma hemorragia.

Arma-se, então, o combate final de tropas do Exército e da Guarda Nacional contra os Mucker, que ocorreu em 2 de agosto de 1874. Um seguidor da seita (Carlos Luppa) teria levado às tropas até onde se escondia Jacobina. Ela e seus seguidores foram massacrados. Os poucos que sobreviveram foram presos e condenados. E, segundo relatos, mesmo depois de soltos os seguidores de Jacobina foram perseguidos na região e até pelo Estado afora, inclusive ocorrendo novas mortes. Outros seguidores da seita, que haviam fugido antes do masacre, também sofreram perseguição.
A história já foi contada e recontada, ganhando novas versões, a maioria trazendo uma nova visão sobre Jacobina, que de líder fanática de uma seita passou a ser vista como líder defensora de uma minoria ameaçada pela intolerância da sociedade na época.
Polêmicas e versões à parte, em 2009, um Memorial da Reconciliação foi erguido em Sapiranga, ao pé do Morro Ferrabraz (junto à uma estátua em homenagem ao Coronel Genuíno Sampaio), selando simbolicamente a paz entre descendentes dos dois lados do conflito.


Departamento de Comunicação
PREFEITURA DE SAPIRANGA
A Serviço da Comunidade

Redação Ferrabraz

Recent Posts

Sapiranga elege 11 vereadores para 2025 com forte renovação e reeleições marcantes

As eleições de 2024 em Sapiranga definiram os 11 vereadores que ocuparão a Câmara Municipal…

3 semanas ago

Carina Nath é Reeleita Prefeita de Sapiranga com 68,18% dos Votos em Vitória Expressiva

Neste domingo, a prefeita Carina Nath (PP) foi reeleita para comandar Sapiranga por mais quatro…

3 semanas ago

Valdir da Luz e Rita Della Giustina São Confirmados como Candidatos à Prefeitura de Sapiranga

Na tarde de sábado (3), a Câmara Municipal de Vereadores foi palco de uma importante…

3 meses ago

Feevale e prefeitura de Sapiranga firmam parceria para fortalecer cultura empreendedora no município

O reitor da Universidade Feevale, José Paulo da Rosa, visitou na tarde desta quarta-feira, 24,…

3 meses ago

Enchentes: Novo decreto de benefício do programa Volta por Cima é publicado

Foi publicado, no Diário Oficial do Estado (DOE) desta sexta-feira (10/5), o Decreto 57.607, que…

6 meses ago

Tragédia no Rio Grande do Sul: Número de Mortos Aumenta com as Fortes Chuvas

As recentes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul desencadearam uma crise humanitária de…

6 meses ago

This website uses cookies.